Administrar o Avaí não é um hobby
Diante da manifestação da
esposa do Presidente do Avaí sobre o atual momento vivido por ele frente
ao desafio de administrar o clube, com indicações de renúncia, e
considerando a repercussão do texto publicado, acredito sejam
necessários alguns esclarecimentos acerca do seu conteúdo, sob o risco
de que se reproduzam algumas informações que não representam a
realidade:
1. Que ele foi alçado à Presidência por ironia do
destino: quando na gestão anterior estava no cargo de Vice e acabou
assumindo a Presidência, pode-se até dizer que foi por ironia do
destino. No entanto, ao final daquele mandato candidatou-se novamente
por meio de uma chapa ao conselho, numa eleição em que algumas
imoralidades foram cometidas para vencer as eleições, como usar a
estrutura do clube para buscar votos, usar o nome do programa de sócios
como nome da chapa, aumentar de 100 para 200 o número mínimo de
integrantes de cada chapa, e convocar as eleições para dia útil em
horário comercial, para que a outra chapa concorrente, formada
basicamente por jovens trabalhadores, tivesse dificuldade de votar. Se
não desejavam tanto ser eleitos, bastava que tivessem conduzido o
processo dentro da moralidade.
2. Que assumiu um clube falido,
com débitos milionários: talvez a frase mais repetida pelo então
candidato à Presidência foi de que “a dívida é administrável”. Portanto,
cabe ao Presidente eleito colocar em prática seu plano, apenas como
obrigação. Ademais, como já Presidente na ocasião das eleições, tinha
total consciência da situação financeira do clube.
3. Que
conseguiu parcelar dívidas e colocar a folha de pagamento do clube no
azul: todos sabem que a folha de pagamento esteve (mas não está mais) no
azul apenas porque o clube vendeu parte do seu terreno no âmbito da
desapropriação para construção do acesso ao novo terminal do aeroporto,
assunto amplamente veiculado na mídia. Se o terreno não fosse
desapropriado, a situação da folha de pagamento não estaria melhor do
que no início do mandato.
4. Que torcedores exigem contratações
de peso e se esquecem de que há necessidade de dinheiro: não precisa
entender muito de futebol para perceber que o clube está gastando mal,
com contratações equivocadas. Um bom uso dos recursos que possui
permitiria ter um time bem mais competitivo. Se gasta mal é porque o
clube ainda se curva diante de empresários – aqueles que esta
administração prometeu afastar do clube. A fórmula adotada é conhecida, e
não funciona mais.
5. Que o Presidente viaja de madrugada atrás
de patrocínio: o Presidente deslocou para a gerência comercial do clube
um funcionário que não poderia mais contribuir, reconhecidamente sem
competência para aquela função. E nem esta nomeação, nem o esforço extra
estão surtindo efeito, pois o clube bateu seu recorde de permanência
sem patrocínio máster. Este é só um exemplo que demonstra que não foram
feitas as mudanças necessárias para uma boa gestão.
6. Que o
Presidente nunca precisou assumir um clube de futebol para promoção
pessoal: o próprio Presidente já declarou publicamente que seu papel
seria político e que contrataria um administrador executivo para cuidar
da gestão do clube. Deveria saber que no futebol é impossível um
Presidente não se envolver diretamente na gestão, mesmo quando existe a
figura do executivo. Sobre contratar o executivo, somente o salário de
um dos jogadores dispensáveis seria suficiente para esta contratação.
7. Que não está cuidando da sua vida pessoal por dedicação excessiva ao
clube: se estava tão atarefado, por que assumiu também a Presidência da
Associação de Clubes de Santa Catarina? E a Vice Presidência da Liga
Rio-Minas-Sul? Talvez a dedicação exclusiva ao Avaí, clube para o qual
foi eleito Presidente, o permitiria fazer o que se propôs quando a ele
foi confiado o cargo. A esposa do presidente não tinha a obrigação de
conhecer os ônus, principalmente para a família, de se assumir um cargo
de tamanha envergadura, mas o Presidente já tinha elementos suficientes
para fazer esta avaliação.
Por fim, diante dos desdobramentos
deste tema, espera-se que o Conselho Deliberativo do clube tome as
providências necessárias para que o Avaí não seja o grande perdedor
nesta história, resulte ou não na saída do Presidente, pois o golpe
moral imposto a jogadores, comissão técnica e funcionários já aconteceu
com este episódio. E que faça mudanças no estatuto, conforme prometido
aos seus eleitores na ocasião das eleições, de modo a prover mais
democracia, eficiência, transparência e governança ao clube, condição
necessária para que o Avaí dê mais algum passo verdadeiro em direção à
profissionalização em sua gestão.
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